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Ariano Suassuna e a Capital da Paraíba: Uma Relação de Memória e Dor

Ariano Suassuna, renomado escritor brasileiro, é amplamente conhecido por suas obras que exaltam a cultura nordestina, como “O Auto da Compadecida”. Nascido na capital da Paraíba, Suassuna evitava chamar a cidade pelo nome atual, João Pessoa, devido a uma profunda admiração e respeito por seu pai, João Suassuna, assassinado em 1930.

João Suassuna, pai de Ariano, foi uma figura política importante na Paraíba, tendo sido governador do estado. Em 1930, ele foi assassinado em um contexto de intensas disputas políticas, um evento que marcou profundamente a vida de Ariano. A tragédia envolveu três figuras centrais: João Pessoa, João Suassuna e João Dantas. João Pessoa, então presidente do estado, foi morto por João Dantas, um opositor político e aliado de João Suassuna.

Após a morte de João Pessoa, muitos de seus opositores, incluindo João Suassuna, enfrentaram perseguições políticas. João Suassuna foi assassinado no Rio de Janeiro enquanto tentava provar sua inocência em relação às acusações de envolvimento na morte de João Pessoa. Esse evento trágico deixou uma marca indelével na família Suassuna.

Ariano Suassuna, que tinha apenas três anos na época da morte do pai, cresceu com essa história profundamente enraizada em sua memória. Ele e sua família passaram a evitar o uso do nome “João Pessoa” para se referir à capital da Paraíba, preferindo o antigo nome “Parahyba”, em homenagem à grafia da época em que Ariano nasceu.

O neto de Ariano, João Suassuna, explica que essa escolha de palavras era uma forma de manter viva a memória do pai e de lidar com a dor da perda. Ariano Suassuna incorporou a figura do pai em sua obra literária, utilizando a literatura como uma forma de protesto e de preservação da memória paterna.

A relação de Ariano com seu pai transcendeu o físico, sendo uma presença constante em sua literatura e em sua vida. João Suassuna, o neto, destaca que Ariano descobriu a literatura através da biblioteca do pai, um grande leitor, e que essa descoberta foi fundamental para sua formação como escritor.

A influência de João Suassuna na vida de Ariano é evidente em sua obra. O dramaturgo frequentemente se referia ao pai como o “Cavaleiro sem Mancha e sem Medo”, uma figura que se tornou central em sua produção literária. Em seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, Ariano afirmou que sua escrita era uma forma de protesto contra a morte do pai e uma tentativa de recuperar sua imagem.

Ariano Suassuna, ao longo de sua vida e obra, manteve viva a memória de seu pai, transformando a dor da perda em uma rica contribuição para a literatura brasileira. Sua recusa em chamar a capital da Paraíba de João Pessoa é um testemunho do profundo impacto que a tragédia familiar teve em sua vida e em sua arte.