O administrador de empresas Fernando Trabach Filho explica que a oscilação do dólar afeta diretamente o preço de produtos no Brasil, mesmo quando eles são produzidos internamente. Isso acontece porque a economia brasileira é fortemente influenciada pelo comércio exterior, seja na importação de insumos ou na exportação de bens primários. O reflexo aparece no custo de produção, na composição de preços e, em muitos casos, no próprio comportamento do consumidor.
Mesmo quem nunca comprou algo importado sente os efeitos da valorização da moeda norte-americana. Quando o valor do dólar está mais alto, tudo o que depende de componentes ou matérias-primas do exterior fica mais caro, o que inclui desde eletrônicos até alimentos. Essa influência ocorre em cadeia e, muitas vezes, de forma silenciosa e gradual.
Por que o dólar afeta tanto o custo de produção no Brasil?
Grande parte dos insumos usados pela indústria brasileira é cotada em dólar. Fertilizantes, combustíveis, peças mecânicas e produtos químicos vêm de fora ou têm o preço atrelado ao mercado internacional. Quando o dólar sobe, esses itens ficam mais caros, aumentando o custo de produção em diversos setores. Fernando Trabach Filho ressalta que isso se reflete especialmente em áreas como agricultura, transporte e manufatura.
Mesmo setores tradicionalmente nacionais, como a indústria alimentícia, acabam impactados. Um exemplo é o trigo, que tem o preço definido globalmente. Quando o dólar sobe, o valor da tonelada em reais também sobe, encarecendo pães, massas e biscoitos. O repasse desses custos para o consumidor final é quase inevitável, ainda que ocorra com algum atraso.

A exportação também influencia os preços internos?
Sim. Quando o dólar está valorizado, os produtos brasileiros ganham competitividade lá fora, já que se tornam mais baratos para os compradores estrangeiros. Isso aumenta as exportações e pode reduzir a oferta de determinados itens no mercado interno. Fernando Trabach Filho destaca o caso da carne bovina: quando há forte demanda externa e o dólar está alto, os frigoríficos priorizam o mercado internacional, o que pressiona os preços no Brasil.
Esse movimento também é comum com soja, milho, café e outros produtos agrícolas. A lógica é simples: com mais lucro na exportação, as empresas vendem menos no país. O resultado é uma elevação dos preços internos, mesmo que a produção seja local. O consumidor brasileiro, então, passa a pagar mais por itens que antes tinham menor variação de valor.
A queda do dólar sempre representa vantagem para o consumidor?
Nem sempre. Quando o dólar cai, espera-se uma redução nos custos de importação e, em tese, nos preços de produtos e insumos. No entanto, Fernando Trabach Filho esclarece que a transmissão dessa queda para o consumidor depende de outros fatores, como a estabilidade econômica, a política fiscal, os custos logísticos e até o comportamento dos mercados. A relação entre dólar e preços é influenciada por um conjunto de variáveis que tornam o processo mais complexo do que parece.
Impactos que vão além das prateleiras
A variação do dólar afeta também o planejamento de empresas e consumidores. Para Fernando Trabach Filho, compreender essa dinâmica é essencial para decisões mais conscientes. O dólar alto ou baixo molda a economia brasileira em vários níveis e de maneiras muitas vezes invisíveis. Ter atenção às cotações, buscar fornecedores nacionais, planejar compras com antecedência e diversificar estratégias de precificação são caminhos para reduzir a dependência e os impactos dessa oscilação.
Autor: Vlasov Gogh