O 1º Seminário Nacional LGBTQIA+ de Fé teve início hoje, 4 de fevereiro de 2025, no Rio de Janeiro, reunindo religiosos, pesquisadores e ativistas em um espaço de diálogo inter-religioso. O evento, que ocorrerá até o dia 6 de fevereiro na Biblioteca Parque Estadual, busca promover a inclusão e o acolhimento das diferentes orientações sexuais e identidades de gênero dentro das tradições religiosas. A iniciativa é uma resposta à necessidade de criar ambientes mais acolhedores e respeitosos para a população LGBTQIA+.
A cientista da religião Giovanna Sarto, uma das curadoras do seminário, destaca a importância do diálogo entre as diversas tradições religiosas, como Budismo, Islamismo, Candomblé, Umbanda, Catolicismo e religiões evangélicas. Segundo ela, a esperança é que a fé e a pluralidade sexual se tornem cada vez mais compatíveis. Sarto observa que, embora haja uma maior abertura nas religiões de terreiro, como a Umbanda e o Candomblé, ainda existem nuances de conservadorismo que dificultam o diálogo.
Um dos principais desafios enfrentados no seminário é o fortalecimento dos fundamentalismos religiosos, que têm ganhado força nos últimos anos, muitas vezes impulsionados por políticos reacionários. Giovanna explica que esses fundamentalismos promovem interpretações literais de textos religiosos, desconsiderando o contexto histórico e político em que foram escritos. Essa abordagem tem sido utilizada para justificar a violência e a exclusão da população LGBTQIA+.
A pesquisadora critica a contradição de religiões que, originalmente, eram plurais e acolhedoras, mas que atualmente se apresentam de forma excludente. Ela ressalta que o Cristianismo, por exemplo, possui uma rica diversidade de histórias que refletem vivências sexuais e identidades variadas. No entanto, a interpretação contemporânea tem se tornado rígida, limitando a liberdade e o respeito que deveriam ser inerentes à fé.
O seminário também contará com a participação de ativistas, artistas e políticos, promovendo um espaço de troca de experiências e reflexões. Organizado pelo Fundo Positivo, o evento abordará temas como a terapia de reversão, a ética da diversidade e a intolerância religiosa no Brasil. Ao final do encontro, será publicada a Carta do Rio de Janeiro contra a LGBTfobia, com o objetivo de incentivar políticas públicas que defendam a vida e os direitos da população LGBTQIA+.
Héder Bello, que participará do seminário como coordenador do grupo de trabalho que pede a criminalização da chamada “cura gay”, compartilha sua experiência pessoal. Ele cresceu em uma família evangélica fundamentalista e passou por diversas tentativas de reorientação sexual, que incluíam psicólogos cristãos e práticas de exorcismo. Héder relata que essas experiências o deixaram com traumas profundos, afetando sua autoestima e levando-o a pensamentos suicidas.
Após cursar psicologia e ter acesso a novas perspectivas, Héder começou a questionar as visões negativas da religião sobre a diversidade sexual. Atualmente, ele está concluindo um doutorado na área, focando nos efeitos prejudiciais das terapias de conversão sexual. Héder defende que o Brasil avance na criminalização dessas práticas, garantindo que nenhum jovem LGBTQIA+ passe pelo que ele passou.
Em sua luta, Héder enfatiza que a “cura gay” não é uma terapia, mas sim um mecanismo de tortura psicológica e emocional que destrói vidas. Ele clama por políticas de reparação para as vítimas dessas práticas, reconhecendo os danos irreversíveis que elas causam. O seminário representa um passo importante na busca por uma fé que acolha e respeite a diversidade, promovendo um diálogo necessário para a construção de um futuro mais inclusivo.